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Fernanda Satty Miyano Fernanda Satty Miyano

Posso beber chá na gravidez?

Posso beber chá na gravidez?

Primeiramente é importante saber que existem dois tipos de chás: os não herbais e os herbais. Os chás não herbais são representados principalmente pelo chá preto e chá verde.

Chás não herbais

Os chás não herbais são feitos com as folhas das plantas de chá, quanto mais longo seu processo de fermentação, maiores são suas concentrações de cafeína. O chá preto é o tipo mais comum entre eles. Ele inclui misturas como o English breakfast e Earl Grey. O chá verde tem um sabor mais suave do que o chá preto. Os chás descafeinados de chás não herbais ainda contêm uma pequena fração de cafeína.

Chás herbais

Os chás herbais são feitos a partir de raízes, frutas, flores, sementes e folhas de várias plantas, mas não das folhas da planta de chá. Esses chás não contem cafeína e podem ser usados para fins medicinais – apesar de faltarem evidências de efetividade e segurança.

E falando em segurança, quais os chás considerados seguros na gravidez?

Embora se diga que chá não herbal traz muitos benefícios à saúde por causa dos antioxidantes, ele também tem cafeína. Uma xícara média tem cerca de 40 a 50 miligramas de cafeína. O chá descafeinado ainda contém um pouquinho de cafeína, mas geralmente é só cerca de 0,4 miligramas.

Se você não sabe quanto de cafeína é seguro na gravidez, segue abaixo orientação da Organização Mundial de Saúde e da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, respectivamente:

- Para mulheres grávidas que consomem mais de 300 mg de cafeína por dia, é recomendado reduzir a ingestão de cafeína durante a gravidez para diminuir o risco de perda gestacional e de bebês com baixo peso ao nascer.

- A recomendação de limitar a cafeína a 200 mg por dia durante a gravidez ainda é válida. O consumo elevado de cafeína pela mãe (acima de 300 mg/dia) está associado a um aumento do risco de restrição do crescimento fetal e pode aumentar os riscos de aborto espontâneo.

Os chás herbais naturalmente não têm cafeína, a questão ao consumi-los durante a gravidez é que não há muitas informações sobre a maioria das ervas e como podem afetar o feto em desenvolvimento. Existem opiniões diferentes sobre a segurança, tanto para mulheres grávidas quanto para as que não estão grávidas. O uso regular do chá de camomila, por exemplo, se associou, em um estudo italiano, a um aumento de risco de parto prematuro, menor peso ao nascer e menor comprimento do recém-nascido.

Acredita-se que a maioria das marcas comerciais de chás de ervas sejam seguras para qualquer pessoa consumir em quantidades razoáveis. No site do Chá Leão, na aba sobre a linha de autocuidado feminino, o fabricante alega que o consumo é seguro para todos, incluindo gestantes.

Os chás de ervas considerados inseguros são aqueles que não são produzidos comercialmente, aqueles feitos com grandes quantidades de ervas (mais do que as usadas em alimentos ou bebidas comuns) e aqueles feitos com ervas conhecidas por serem tóxicas.

Chás para gravidez

Existem vários chás rotulados como chás para gravidez. Esses chás, que geralmente contêm folha de framboesa vermelha, são considerados benéficos nessa fase. Muitas parteiras e profissionais que trabalham com ervas acreditam que o consumo regular desses chás pode ajudar a prevenir complicações na gravidez, como pré-eclâmpsia, trabalho de parto prematuro, trabalho de parto prolongado e hemorragia pós-parto.

Fiz uma procura no Pubmed por artigos sobre consumo de framboesa e resultados gestacionais. Algumas publicações encontraram resultados significativos para redução de intervenções no parto e de duração do primeiro período, entretanto, são estudos com pequenas amostras. Mais estudos com maior qualidade metodológica são necessários.  

Minha conclusão sobre tudo que encontrei de evidências sobre o assunto, é muito improvável que você tenha complicações associadas ao consumo de chás durante a gravidez se o fizer de forma moderada e pouco frequente.

Fonte:

1) Herbal Tea & Pregnancy | A Handbook for Expecting Mothers

2) WHO recommendations on antenatal care for a positive pregnancy experience

3) The International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) recommendations on adolescent, preconception, and maternal nutrition: "Think Nutrition First" - PubMedRaspberry leaf (Rubus idaeus) use in pregnancy: a prospective observational study - PubMed

4) Use of Herbal Products Among 392 Italian Pregnant Women: Focus on Pregnancy Outcome.

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Fernanda Satty Miyano Fernanda Satty Miyano

Quais são os fatores que facilitam a candidíase?

Quais são os fatores que facilitam a ocorrência da candidíase?

Depois da vaginose bacteriana , a candidíase vulvovaginal (VVC) é considerada a segunda infecção vaginal mais comum, afetando 75–80% das mulheres pelo menos uma vez na vida, causada principalmente pela Candida albicans. Até 9% das mulheres em diferentes populações apresentam mais de três episódios por ano, o que é definido como candidíase vulvovaginal recorrente (RVVC).

Apesar da patogênese distinta, os sintomas da vaginite fúngica e da vaginose bacteriana são frequentemente confundidos, resultando em diagnósticos imprecisos e em tratamentos incorretos e ineficazes.

A candidíase é considerada um distúrbio multifatorial, onde um desequilíbrio da microbiota vaginal, fatores predisponentes da mulher, bem como as cepas da Candida, provavelmente favorecem a ocorrência da doença.

O microbioma vaginal é geralmente habitado por comunidades bacterianas, principalmente representadas pelo gênero Lactobacillus, como L. iners e L. crispatus, e por fungos, comumente chamados de micobioma. As espécies de Candida são os organismos fúngicos mais abundantes no micobioma vaginal; assim, podem ser agentes causadores de infecções vaginais sob certas condições.

Acredita-se que as espécies de Lactobacillus favoreçam um microbioma vaginal saudável tanto pela acidificação do ambiente, por meio do metabolismo anaeróbico do glicogênio em ácido D-láctico, quanto pela produção de peróxido de hidrogênio (H₂O₂), cuja atividade antimicrobiana provavelmente inibe a invasão da Candida.

Vários fatores podem alterar a microbiota vaginal em pacientes com VVC: primeiramente, mudanças na comunidade de Lactobacillus (por exemplo, L. acidophilus, L. gasseri e L. vaginalis); em segundo lugar, uma condição de alto estrogênio (como: terapia de reposição de estrogênio, segunda fase do ciclo menstrual ou gravidez). Essas condições prejudicam o equilíbrio entre tolerância e invasão, levando à adesão da Candida ao epitélio mucoso, crescimento anormal de fungos e aumento do risco de desenvolver infecções pelo fungo.

Além disso, um amplo espectro de fatores predisponentes relacionados a saúde e comportamento da mulher podem favorecer a ocorrência e recorrência da candidíase, como diabetes mellitus tipo 2, uso de medicamentos que provocam imunossupressão, antibióticos, uso de contraceptivos e dispositivos intrauterinos. No entanto, como cerca de 20–30% das pacientes com VVC são mulheres saudáveis sem fatores predisponentes, também foi sugerido que diferenças interindividuais, como genética, etnia, bem como tipos e ocorrência das cepas de Candida, possam desempenhar um papel fundamental na patogênese da candidíase idiopática.

Se você apresentar sintomas vulvovaginais, não deixe de procurar o seu médico para realização de boa anamnese, exame físico e microscopia a fresco. Procure evitar a automedicação ou tratamentos prescritos por mensagem, a chance de serem incorretos e causarem mais problemas para seu meio vaginal não é pequena.

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